quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mistiras Entrevista#2 (Catia Ana)


Hoje conversamos com a genial criadora da Webcomic O Diário De Virgínia, uma HQ que revolucionou o estilo dos "quadros infinitos" (leitura exclusiva para internet, onde os quadros da história não ficam presos na configuração de uma página, mas sim dispersos na tela, sendo acompanhada através da barra de rolagem do navegador). Acompanhe seu processo de criação e saiba curiosidades sobre cada personagem do Diário.

Espero que gostem!

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-Primeiro Catia, nos fale como seu deu os seus primeiros contatos com os quadrinhos

Quando pequena não tive muito contato com quadrinhos. No máximo uma ou outra revista da Turma da Mônica que me chegavam às mãos. Fui conhecer mais sobre quadrinhos, diferentes estilos e histórias novas durante a faculdade de design. Uma amiga minha, a Heluiza, me passou muitos quadrinhos bacanas para ler e até desenvolvemos um projeto de fanzine juntas.

-Como surgiu a ideia do Diário? A protagonista e suas experiências são baseadas em você?

A ideia para o Diário surgiu no finalzinho de 2009, um pouco por influência do quadrinho Retalhos do Craig Thompson e também de uma vontade de pôr no papel algumas coisas que estavam me afligindo. Até por um pouco de receio preferi criar uma personagem com a qual eu pudesse lidar melhor com esses problemas sem me expor muito. Assim me senti mais livre para falar daquilo que estava me angustiando e também sem um compromisso com a realidade pude trazer à tona personagens mais subjetivos e metafóricos, como o Mike.

-Como surgiu a ideia do design dos personagens Mike e Sabrina? Você chegou a pensar em outros visuais para eles?  

O primeiro rabisco que fiz do Mike foi despretensioso. Estava com a música Raindrops keep falling on my head na cabeça e fui ilustrá-la com um desenho da Virgínia sentada num banco. Tem uma parte da música que fala “... the blues they sent to meet me”  e acabei desenhando essa tristeza que sempre acompanhava a Virgínia. Daí surgiu a ideia dos medos dela serem representados por um personagem, achei que o nome Mike ficaria bacana e a partir dos próximos rabiscos fui definindo-o melhor. A ideia geral das características da Sabrina veio de outro desenho despretensioso que fiz para colocar no computador do meu trabalho. Quando pensei em dar forma à criatividade da Virgínia retomei esse desenho e fui testando pequenas mudanças até chegar no que a Sabrina é hoje.


O primeiro esboço do Mike...


-Por favor, nos fale do estilo usado na sua Webcomic. Por que o escolheu?

Na verdade não sei se é um defeito ou uma qualidade, mas no Diário procuro seguir mais minha intuição em relação à minha produção. Por isso não tenho uma razão lógica para minhas escolhas, apenas vou seguindo e testando novas coisas. Isso tem me ajudado porque fico mais livre e menos pressionada, se algo que tentei não dá certo tento outras. Desde o primeiro capítulo percebo que meu estilo, traço e colorização mudaram e se aperfeiçoaram muito. E isso se deve a essa brincadeira de experimentação que eu me permito. Nos últimos capítulos por exemplo já fiz toda a arte-final manualmente, com lápis aquarelável e foi uma experiência muito boa. Mas se no próximo capítulo sentir que preciso testar algo diferente vou fazê-lo sem receios.



...e o primeiro esboço da Sabrina



-A cada capitulo, a leitura do Diário de Virgínia muda, o que a torna única para cada um. Como você pensa nessas mudanças?

Ás vezes começo pensando na história ou então em uma forma de leitura e qual tipo de história combinaria com ela. Quando envolve algum efeito ou código que não conheço passo um bom tempo pesquisando até encontrar uma forma de realizar o que estou pretendendo. Confesso que muitas vezes me decepciono com o resultado final porque é muito complicado pensar na história, na arte, no texto, na forma de leitura e num modo de realizar isso. Fico com a sensação de estar deixando a história um pouco de lado e estar focando demais no formato. Até por isso que comecei ano passado a série When a man loves a woman, num formato mais simples onde eu só me preocupasse com a história e nada mais.

-Para terminar, nos fale sobre seus próximos projetos, seja em que área for, e fique a vontade para divulga-los.

O meu projeto pra esse ano é a impressão da série que comecei o ano passado, When a man loves a woman. Essa série foi uma forma que encontrei de desenvolver melhor a história da Virgínia, porque senti que os capítulos não permitiriam isso. Até o momento tenho 38 páginas prontas e estou trabalhando na continuação da história, espero até junho ter concluído as páginas que faltam para procurar uma forma de financiamento da impressão dessa história.

É isso. Muito obrigado pelo seu tempo e atenção Catia, e esteja à vontade para voltar no Mistiras quando quiser. Abração!

 Eu que agradeço, é sempre um prazer.

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Para finalizar de verdade, que tal um pequeno vídeo da Catia explicando a montagem de um capitulo do Diário?



Um comentário:

Nane disse...

Que maneiro!

Processo criativo é muito interessante de ser exposto. Não é todo artista que se dispõe a mostrar como trabalha, acho que por medo de ser copiado, sei lá. Mas eu acredito que cada um desenvolverá seu próprio método, e conhecer o dos outros ajuda na formulação de possibilidades.

Adorei o post!